Desafios Persistentes no Setor Agrícola
Embora os agricultores dos Estados Unidos tenham recebido com otimismo o anúncio do pacote de ajuda de US$12 bilhões feito pelo presidente Donald Trump na última segunda-feira, a maioria deles ressalta que esse montante é insuficiente para cobrir as perdas significativas causadas pelos preços baixos das colheitas e pelas tensões resultantes da guerra comercial. Segundo opiniões de representantes do setor e especialistas financeiros, a ajuda é vista como uma medida paliativa, que apenas ‘retarda o sangramento’ em uma situação já delicada.
De acordo com cinco agricultores e grupos do setor, bem como quatro economistas e três banqueiros agrícolas consultados, embora a quantia anunciada auxilie na preparação para a próxima temporada de plantio, não se compara às perdas acumuladas ao longo dos últimos anos. ‘Esse apoio pode servir como uma tábua de salvação para aqueles que estão apenas tentando sobreviver até o próximo ano. Mas é uma solução temporária, sem um plano a longo prazo’, declarou Mike Stranz, vice-presidente da National Farmers Union.
Os desafios enfrentados pelos agricultores são variados e complexos, incluindo preços de safra em queda, aumento nos custos de mão de obra e insumos essenciais como fertilizantes e sementes. Além disso, a guerra comercial gerada pela administração Trump teve um impacto direto nas exportações agrícolas, levando a uma redução significativa na demanda por produtos como a soja.
Impacto da Guerra Comercial nas Exportações
A guerra comercial travada pelos Estados Unidos, com tarifas elevadas sendo aplicadas, resultou em retaliações que afetaram diretamente os agricultores americanos. Um dos efeitos mais visíveis foi a queda das exportações de soja, que viu seus números despencarem após a suspensão das importações por parte da China, entre maio e novembro. Essa situação causou perdas que variam entre US$35 bilhões e US$44 bilhões para as nove principais commodities, como milho e trigo, conforme aponta Shawn Arita, diretor do Agricultural Risk Policy Center na North Dakota State University.
Com esses números alarmantes, as autoridades do governo Trump têm enfatizado que a ajuda financeira é apenas um remédio temporário até que as mudanças em programas de suporte à agricultura sejam implementadas. A secretária de Agricultura, Brooke Rollins, reiterou que o objetivo final é garantir que os agricultores sejam competitivos no mercado, ao invés de dependerem de cheques do governo. ‘Essa ponte é absolutamente necessária com base na situação em que estamos agora’, enfatizou durante uma coletiva na Casa Branca.
Perguntas Sobre a Sustentabilidade do Setor
Os credores agrícolas estão preocupados com a rentabilidade do setor no futuro, com pesquisas indicando que menos da metade dos tomadores de empréstimos poderão ter resultados financeiros positivos até 2026. Essa incerteza é alimentada por questões como liquidez e inflação, destacando uma crise que se aprofunda. Mesmo antes do pacote de ajuda, o governo Trump já havia planejado um gasto recorde de US$40 bilhões em auxílio agrícola, impulsionado por desastres naturais e necessidades econômicas.
O programa de ajuda atual visa oferecer suporte até que os benefícios da nova legislação, conhecida como One Big Beautiful Bill, comecem a surtir efeito em outubro de 2026. Essa reforma deve aumentar os pagamentos do governo, mas os economistas alertam que os ajustes nos preços de referência, embora benéficos, não são suficientes para resolver os problemas de endividamento e as crescentes despesas do setor agropecuário. Um estudo realizado pela Purdue University revelou que mais da metade dos agricultores planejam usar os recursos recebidos para quitar dívidas, e não para investir em melhorias, como maquinário.
Perdas e Necessidades no Setor
Os agricultores de soja têm enfrentado as maiores dificuldades, especialmente após a proibição das importações pela China, que resultou em bilhões de dólares em perdas durante a temporada de pico de exportação. Caleb Ragland, presidente da American Soybean Association, destacou que a ajuda que está sendo oferecida cobre apenas uma fração das perdas. ‘Agradecemos pela ponte financeira, mas isso apenas tapa buracos e diminui o sangramento’, afirmou, enfatizando que a necessidade de suporte financeiro é significativamente maior.
A maior parte do pacote de ajuda de US$12 bilhões não estará disponível para agricultores de produtos agrícolas e vegetais, que têm acesso a apenas uma fração de US$1 bilhão, de acordo com Kam Quarles, líder do National Potato Council. Ele destacou que apenas para batatas russet, as perdas este ano são estimadas em meio bilhão de dólares. ‘A necessidade é muito maior’, concluiu.

